Foto: Vinicius Becker
Santa Maria passou a integrar o ranking de cidades com o maior número de estupros a cada 100 mil habitantes. A cidade ocupa a 34ª posição, tendo uma taxa de 68,7 registros a cada 100 mil pessoas. Além de Santa Maria, Viamão (26ª), Gravataí (38ª), Alvorada (48ª) , Região Metropolitana, e Uruguaiana (49ª), Fronteira Oeste, são os municípios do Rio Grande do Sul que integram essa estatística negativa.
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Esse dado coloca Santa Maria em um patamar de violência sexual comparável a municípios em regiões historicamente mais violentas do país.
A informação faz parte do Anuário de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano. O ranking elaborado mostra as 50 primeiras colocadas, em que a cidade de Boa Vista, em Roraima, lidera a lista. O levantamento considera tanto os casos de estupro quanto os de estupro de vulnerável, quando a vítima tem menos de 14 anos ou não tem condições de oferecer resistência ou consentimento.
A coleta é feita com dados em conjunto dos registros policiais e das Secretarias de Segurança Pública dos Estados. No anuário de 2024, em que constavam os dados de 2023, apareceram as cidades de Alvorada, Gravataí, Passo Fundo, Uruguaiana e Viamão.
Ainda que o número total de casos mude entre as regiões, os dados reforçam que o estupro não é um crime que ocorre somente em cidades maiores nem concentrado em grandes centros. O delito se espalha por todas as classes sociais e faixas etárias, inclusive em municípios de perfil universitário, como Santa Maria, onde há alta circulação de jovens devido às instituições de Ensino Superior espalhadas pela cidade.
- Na cidade, entre janeiro e agosto, são 20 inquéritos relacionados a estupros. Apesar do número, houve uma diminuição em relação a 2024 no mesmo período, quando foram registrados 39. Dentro dos casos de 2025, apenas três foram cometidos por pessoas desconhecidas. Os outros casos foram cometidos por conhecidos, como colegas, amigos e parceiro casual, ex-parceiro, ex-companheiro e também pai - afirma a delegada Elizabete Shimomura, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher.
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Os números mostram que, além da maioria das pessoas que cometeu o crime serem conhecidas (17), não faziam o uso de álcool no momento (11), o que desmistifica a justificativa, muitas vezes, utilizada, de que a bebida alcoólica potencializa o ato. O uso de arma branca também está entre os registros. Em quatro casos foi relatado utilização de faca.
O levantamento revela, ainda, que as vítimas dos crimes abrangem uma ampla faixa etária, de 17 a 45 anos, com a maior concentração de casos ocorre na faixa dos 20 a 30 anos. Entretanto há também casos de vítimas fora dessa faixa (17).
Sobre os casos deste ano, 12 seguem em investigação devido à complexidade das situações, ou por não terem informação suficiente ou testemunhas. Elizabete Shimomura, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, traz um importante ponto de diferenciação entre os casos de estupro e a importunação. De acordo com ela, são situações diferentes, em que a população, por vezes, por vir a confundir.
- A importunação pode ser exemplificada como aquele beijo sem consentimento em uma festa, uma situação em um ônibus cheio. Nessas situações não se tem um elemento ameaça ou violência. A diferença é a existência da ameaça ou violência, que daí passa para o estupro e a pena é bem mais alta - diz a delegada.
Casos registrados em Santa Maria em 2025
Autor | Idade da vítima | Uso de arma branca? | Ingestão de álcool por parte do autor? |
Desconhecido | 41 | Sim | Não |
Colega de faculdade | 29 | Não | Não |
Amigo | 24 | Não | Sim |
Ex companheiro | 27 | Sim | Não |
Desconhecido | 24 | Não | Sim |
Ex companheiro | 44 | Não | Sim |
Companheiro | 39 | Sim | Sim |
Pai | 21 | Não | Não |
Ex companheiro | 20 | Não | Não |
Companheiro | 33 | Não | Sim |
Marido da irmã da madrasta | 26 | Não | Não |
Colega de trabalho | 23 | Não | Sim |
Ex companheiro | 28 | Não | Não |
Colega de trabalho | 33 | Não | Não |
Desconhecido | 34 | Não | Sim |
Ex companheiro | 24 | Não | Não |
Amigo | 22 | Não | Sim |
Companheiro | 45 | Sim | Sim |
Cunhado | 33 | Não | Não |
Pai | 17 | Não | Não |
Acolhimento
Os dados mais recentes do Anuário revelam um cenário preocupante: o número de estupros no Brasil voltou a crescer em 2024, alcançando mais de 82 mil registros em todo o país. Isso representa uma média de um caso a cada seis minutos. As estatísticas apontam ainda para um número subnotificado. Para cada caso registrado, ao menos outros quatro podem não ter sido formalmente denunciados, seja por medo, dependência emocional, desinformação ou ausência de suporte institucional.
O trabalho de delegacias especializadas no atendimento à mulher (Deam), bem como de instituições de apoio, como o Centro de Referência da Mulher, tem sido essencial na escuta e acolhimento de vítimas.

- Os canais são diversos. Inicialmente, a vítima pode procurar a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. Se tiver vergonha de ir num plantão, ela pode procurar a Delegacia de Polícia para a Mulher de Santa Maria, onde vai ter uma tratamento especial. A gente tenta acolhê-la e encorajá-la a seguir adiante, porque muitas fazem ocorrência e depois não querem mais dar prosseguimento, porque não querem vivenciar aquela situação traumática - orienta Elizabete.
A Lei nº 12.015/2009 define estupro como qualquer ato sexual praticado mediante violência ou grave ameaça. E a legislação atual considera como agravante quando a vítima é vulnerável – como menores de 14 anos ou pessoas com deficiência. O crime é tipificado como hediondo e a pena pode variar entre oito e 30 anos de prisão, dependendo das circunstâncias.
Frente ao aumento dos casos, tanto o Ministério da Justiça quanto os governos estaduais têm reforçado ações de combate à violência sexual, com campanhas de conscientização e ampliação de canais de denúncia, como o Disque 100 e o Ligue 180.
Em Santa Maria, a Patrulha Maria da Penha, o banco vermelho e os atendimentos em centros de saúde também cumprem papel importante na proteção das vítimas e na orientação das famílias.